terça-feira, 9 de abril de 2019

Maria é culpade!

I.
e agora minha boca já começa a salivar
T as angustias com tamanho desespero
lá vem a onda de lágrimas brotando no contorno sutil
dos olhos
lá vem o soco no estômago
a respiração ofegante
o coração apitando
alertando
é crise
é queda
respiração afobada
lembre-se:
não consigo me recordar
luta por oxigênio
arduo
me esfaqueio
em frente ao espelho
pego os cacos de vidro
e raspo em minha pele
o sangue jorra
pinga
e eu grito
busco o ar em meio a tanta água
as conexões neurais já não são feitas
raspo a pele
vejo meu eu verdadeiro
tão doido
o ar machuca na pele
recém marcada
já que este reflexo
está tão podre
tão diminuído
tão merda
tão fingido de dor
tão ridículo
não é, meu amor?

Maria jogava suas coisas no chão, gritava, seu rosto já machucado de tantas facas empunhadas, raspava a pele com a faca amolada, tentava tirar de seu corpo a podridão que o seu Amor tanto falava sentir, só dela chegar, só dela existir e ter a história de alguém que morava em um lugar privilegiado, afinal ela só seria preta o suficiente para Ele, que era preto também, se tivesse uma estrada de muita pobreza, como a que Ele tinha, ela ainda tinha, pra completar o ciclo que Ele nomeava privilégio, um pai militar com 32 anos de carreira, e uma mãe dona de casa e esposa de Cristo, seus criadores, como ele dizia, todos fediam, agora seus pulsos já em sangue, Maria fritava tanto seu cérebro que a baba escorria de seu nariz, de sua boca, chutava, socava o chão frio do quarto a fim de sentir qualquer coisa que fosse; jogada no chão, balbuciava  em torno da mesma sentença: eu sou um monstro, eu sou uma porca, eu deveria morrer. Uma sentença dita todas as vezes que a acusavam de estar errada, de estar fora da normalidade e Maria estava, na real, sempre esteve. Maria era uma agressora, diagnosticada com bipolaridade e diversas ideações suicidas, Maria era do tipo ciumenta, daquelas que tenta segurar o amor com punhos de ferro, na menor ameaça de sua retirada, Maria partia para cima, agredia, batia, enfiava a cabeça de quem ela mais a amava na lixeira, só por se sentir trocada por algo novo, rosinha, branco, um ódio lhe ardia, um ódio de se tirar roupas na rua, totalmente entorpecida, inúmeros tapas de relatos, e daqui só saíra o primeiro, você decide depois se continua a ler os demais, afinal ela era só um carrasco amoroso, alguém que estava muito fudida com todas as histórias quebradas que trazia dentro de seu corpo-túmulo, todas terminando com Maria repetindo para si mesma a mesmíssima sentença: eu sou um monstro, eu sou uma porca, eu deveria morrer.
            Maria acatava a todas as sentenças de seu Amor, afinal, Maria nunca tinha tido um amor, não um amor que estivesse presente, 24 horas de seu dia, era empolgante, era feliz, era realizador, as palavras não conseguem transpor essa magia, talvez por que não exista? Enfim, um Amor que lhe dizia querer ter mais horas para dividi-las com ela, aqueles clichês ‘somente com ela tinha se sentido bem, amado’, todas essas mentiras que o amor nos conta para nos ter como servo, mas Maria tinha a visão de um amor de televisão. Maria não sabia que o amor não existia, e que o amor em vidas negras exige como moeda de troca a sanidade, Maria se entorpeceu desse amor dependente, carente, agressor, e suicida, principalmente suicida. Nunca tinha lidado com a morte tão de perto, e de forma tão eminente como nesta relação, eu acho que o nome disto era relação. Seu amor era suicida, e já lhe alertava desde do princípio, que um dos seus maiores desejos desde que se conhecera por gente era se jogar de algum lugar bem alto e com tanta força que sua cabeça se espatifaria no chão, e a realidade não mais se faria encarnada em sua vida. Maria não sabia como lidar com esse desejo de morrer que feria tanto quem ela tanto amava, Maria só sabia dar a mão a seu amor suicida, quando este olhava para o chão do parapeito, exatamente do segundo andar da Rodoviária do Plano Piloto, Maria só sabia pegar em sua mão, e olhá-lo, e olhá-lo por muitos tempos. Maria nunca tinha lidado com a morte tão de perto, tinha sido cristã não fazia tanto tempo, tinha estado em um relacionamento com um menino-branco-rico-do-Lago-Sul, que a tratava como boneca inflável, e boneca inflável Maria foi, por uns três anos, porque acreditava que o amor era aquela mesmice e aquela mecanicidade engessada, aquele bate-penetra com hora marcada, viveu três anos em cárcere privado, em cárcere no quarto do menino-branco-rico-do-Lago-Sul que queria uma negrinha para viver umas aventuras, e perder a virgindade, e Maria sempre foi muito devota ao amor, se rasgou para este e aquele, mas terminou, e este novo amor que lhe aparecia, lhe trouxe ares de revolução lhe falava sobre poligamia, liberdade, risos, toques verdadeiros, mas principalmente lhe falava de confiança, olhava em seu olho mas Maria ainda trazia como preocupação os traumas do antigo amor branco, tinha sido estuprada diversas vezes, um estupro velado por vez, inclusive Aquele  dia ainda se mantém palpável em sua mente, lembra-se de André estar em cima dela, e ela estar sentindo muita dor, como sempre, já se tornara rotineiro as dores que sentira com a penetração, já que seu corpo lhe respondia que estava traumatizado, assim nem mesmo um filete de ar passava, não tinha condições de um pau se aconchegar ali contudo, isso não agradava seu companheiro, assim Maria engolia a dor, o rio de choro a seco e dava e dava e dava e dava e dava e dava sem parar muitas vezes, ou poucas vezes dependendo de como o Chefe queria, nesse dia, Maria lhe disse: para, por favor, tá doendo muito! E Ele.. Ele só continuou, consigo lembrar das batidas da cama na parede, e eu tentando não gritar de dor, depois Maria disse para ele: por que você não parou? Eu disse que estava doendo. Ele a respondeu com O silêncio que a partir Daquele dia se fez Império por todo o sempre, aquele dia nunca mais foi falado ou rememorado, a não ser hoje, agora que relato ele para você, que não deve nem lembrar mais do que a história se trata, mas, enfim. Fora todas as outras vezes que ele comprava bebidas, vinhos, porque percebeu um padrão: Maria só lhe dava o buraco se estivesse alcoolizada. Maria quando percebeu isso, só conseguia jogar com as indiretas dizendo: estes homens que dão bebida para as mulheres, pra comer elas, é estupro igual. Lembro-me Dele dizer: mas e se ela gosta? Não soube o que responder. São inúmeros tapas, e são tapas e mais tapas de relatos. Maria já teve até porra colocada à força na sua boca, em meios às falsas desculpas seu amor-parceiro dizia que não conseguia evitar, estava muito gostoso, e a boca de MarIa não se comparava a de nenhuma outra que ele já teria metido. E um elogio desses, Maria não sabia como reagir, seus filmes não diziam, já não podia viver mais sem o amor, afinal o amor era isso mesmo, umas horas doce, outras amargas, ela se convenceu. Dando às vezes até sem parar tal como uma boneca inflável, nada mais penetrava Maria, não sem sentir que em seu buraco tinhas farpas, cada tentativa parecia que ficava cada vez mais e mais seca, nada a fazia abrir, Maria trazia essa preocupação quando estava com seu novo negro amor, que ele achasse que o problema fosse ele, e ela não queria ter que contar pra ele, ou melhor confessar, a cilada que tinha se metido daquele antigo amor branco, do menino-branco-rico-do-Lago-Sul, não pra esse novo amor que era tão revolucionário, negro, divertido, verdadeiro e iria diminuí-la. Ela já sentia no tom de voz. No fundo Maria sabia que aquele novo amor não aceitaria. E não aceitou um não como resposta, não com poucas argumentações, então era melhor somente ocultar alguns fados.

Depois eu continuo essa história.... 

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