domingo, 21 de maio de 2017

“Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.”

Strange Fruit de Billie Holliday 



encaro 
o chão sob minha janela 
questionamentos 
fervilham 
que valor 
tem a vida? 
poderemos 
respirar 
sem o rasgo 
da chibata 
em nossas 
costas pretas? 
estamos, malungos,
ensopados 
de sangue 
estamos a rolar 
condenados 
eternamente 
a esta servidão 
labutados? 

só na morte 
o descanso 
se fará? 
mãos calejadas 
de terras 
e enxadas 
somos carnes 
promocionais 
em teus açougues 
estampa 
em tuas butiques 
pensas que eu não sei..
em teus olhos coloniais 
K.K.K 
antigos presenciais 
não passo 
de carne preta 
a ser abatida 
na sua sala de 
bem-estar? 
um objeto exótico 
a ser empalado 
em tu parede 
um troféu 
de notória caça

te servindo 
me relegaram
para exclusiva 
função doméstica 
supervisionada 
por 400 reais 
na abolição 

questiono 
me enforco 
em tua banheira 
ou espero 
quando vamos 
estar 
livres 
final 
mente 
para sonhar 
e amar 
plena 
mente 
meus caros 
malungos.