domingo, 21 de maio de 2017

“Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.”

Strange Fruit de Billie Holliday 



encaro 
o chão sob minha janela 
questionamentos 
fervilham 
que valor 
tem a vida? 
poderemos 
respirar 
sem o rasgo 
da chibata 
em nossas 
costas pretas? 
estamos, malungos,
ensopados 
de sangue 
estamos a rolar 
condenados 
eternamente 
a esta servidão 
labutados? 

só na morte 
o descanso 
se fará? 
mãos calejadas 
de terras 
e enxadas 
somos carnes 
promocionais 
em teus açougues 
estampa 
em tuas butiques 
pensas que eu não sei..
em teus olhos coloniais 
K.K.K 
antigos presenciais 
não passo 
de carne preta 
a ser abatida 
na sua sala de 
bem-estar? 
um objeto exótico 
a ser empalado 
em tu parede 
um troféu 
de notória caça

te servindo 
me relegaram
para exclusiva 
função doméstica 
supervisionada 
por 400 reais 
na abolição 

questiono 
me enforco 
em tua banheira 
ou espero 
quando vamos 
estar 
livres 
final 
mente 
para sonhar 
e amar 
plena 
mente 
meus caros 
malungos. 

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Querubim

te entrelaço em morte querubim
meus gritos te ensurdecem
surdo já não escutas
as bombas que soam lá fora

as bombas querubim

elas tem matado tanta gente
tanta alma em gente
segundos inalienáveis
não me largam
não me saltam

te entrelaço em morte querubim
gritos te ensurdecem

te devoro em partilhas
voa, foge, corre
a morte se aproxima
querubim
os portões estão se abrindo
o camburão vem chegando
malungos a gritar
os portões estão se abrindo

e eis que a verdade
se acovarda
- sou morte em vida
sou nada: puro esvaziar
submerso em
profundo azul

ar?
cadê?
não encontro a pomba
querubim?

cena de guerra
pólvoras aos céus

(fecha-se os olhos)
eis que a morte me subverteu
me subverteu
querubim.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Oquidão

Faz 300 anos
que
esta tristeza
nos raspa como navalha
e
nos sentencia a túmulos
nos assola como indigentes
suga nosso
pulsante viver
e espalha aos ventos
nosso sangue
em jorros alucinantes
de chicotes mil

e nos oqueia
e nos boqueia

ocos
em um mundo de profundo maquinário
somos mortos de almas anavalhadas
pelo ego dos altos
para o gozar glorificado
incitado
dos claros

cadê a matéria-viva
de minha poesia?
matares todos com
tua afiada navalha?
e nestas
desfiguradas entranhas
agora
aquilombadas
preencho
em guerra-auto-declarada
esta oquidão.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Gloomy Sunday


“..My heart will never hope for a new spring again
My tears and my sorrows are all in vain
People are heartless, greedy and wicked... 

Love has died!

The world has come to its end, hope has ceased to have a meaning
Cities are being wiped out, shrapnel is making music
Meadows are coloured red with human blood
There are dead people on the streets everywhere
I will say another quiet prayer:
People are sinners, Lord, they make mistakes..”

Rezso Seress
















e no banheiro
eu olhei 
abismei 
o segredo 
paredes em 
fluxos 
gigantescos 
chãos 
flutuando 
vida 
em pico 
de roda 
gigante 

embriagada em pó 
overdose 
irremediável 
sentidos 
se adormecem 
não sinto 
nada
sofrimento...
me.u..
oquidão 
plena
surtos 
sequenciados 

sentidos 
exau
ridos

emulados
em.podridão
essa 
escuridão 
me cerca 
não há fugas 
caço 
leoa 
em sangria 
saídas ao subsolo 
em busca 
da velha luz 
que me disseram 
no velho bom 
testemunho 
que 
um dia 
aparece 
no 
fim 
do 
túnel 

indiferença 
a morte suspira 
espera 

não captastes 
as cinzas em 
meus olhos? 
a linha fina 
que me segura 
na borda 
do 
precipício?
me suicido 
em vida
silenciosa 
naquela paisagem de sol 
pra quebrar com 
a farsa 
dos dias claros 
deste domingo
lúgubre 
Vége a világnak!


pintura de Miguel Sanz Romero

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

40 minutos

a loucura
permeia
vozes
palavream
saídas
emuladas
em
emergência

pra
todos os lados
sons
graves
sussurros
fragmentados:
- se esvaeirá sua existência
em breve

palavreando
florais
de morte

está tudo bem? 

eu deveria me
arear
contactar
nesse chorume
final?
e
se eu
lhe der minha arma
você atira?
e
se não atirar
eu deveria
apontar para mim?
mirar

não
rogo
chãos firmes
para pessoas
caírem
desfazerem
emulados
em
surtos
enlouquecidos
endereçados

gotas
salinas
sangue
precipicios:
os prantos
finais

está tudo bem para você? 

meu chão assola
não suporto
essa
condição
mulheril
preta
marcada
em brasa

convivências
vivências
empobrecidas
escassas

dor
enterrada
balbuceando
sopros
batimentos

está tudo bem? 

se eu lhe der minha
arma
você puxa o gatilho?
está tudo bem
para você?
atire
mire
nessa
insanidade
insalubre.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

29/05/2015

a morte
manta silenciosa
cobre
meu apodrecido corpo
odor prozaclitiano
aventeia nos ares urbanos

Minha morte: morfina
a congelar os ossos
dos humanos

a morte abafadamente
silencia

a voz
daqueles que nunca deviam ter morrido.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

centro-eu mundo

surtos emblemáticos
de ego
surtos amemorizados
de desafetos
lucidez de.rre.ten.do
em gotas xamânicas
desmancham a realidade
em contrastes violentos
perfuram a realidade ilusória
que a tanto
se apega
o surto da ilusão egocêntrica
o ego que não se desprende do centro
o centro-eu mundo
que desfavorece
qualquer
princípio de gota de amor
violência
física mortal
cabelos torturados
ao vento
marcas roxeanicas
sobre o corpo
marcas dos surtos
emblemáticos amemorizados
de ego
mundo capitalista
centro-eu mundo.

domingo, 1 de janeiro de 2017

CORONEL DA PM É PRESO EM FLAGRANTE 
ACUSADO DE ESTUPRAR MENINA DE 2 ANOS. 


Espamos que se imbricam 

dentro do ser-eu esfacelado 

cacos de almas estraçalhados

enavalhados 

engritecem na garganta 

que cospe ao fogo das entranhas 

um triste fim.