sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

manifesto preto

Para Eduardo Taddeo 

de pilhas e mais pilhas de corpos 
o sangue que jorra de indioafricanos
é a trilha de nosso revoltar
engritece em boca
pulsa nas mãos
a sede
a fome
pela revolução
a revolução estilhaçada por brancos
sepultada
ressuscitou no terceiro dia
em uma comunidade
cujos membros gritavam de horror
nas vielas imantadas de becos escuros
ao caminhar dos ventos
o odor floral das pilhas dos corpos
de jovens favelados
engritece no coração
pulsa na alma
a revolta
a vontade
dos descendentes
de sepultar todo opressor.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

testemunho

a dor das tuas chagas
no envolto do meu ser
aprisionam minha alma
em dolorosas chamas
meu não-ser reverbera
grita
alicates em lágrimas
sangro em entranhas rasgadas
dilaceradas
por tuas ocas vis palavras



vozes dessa guerra

Eis, que todos ficaram 
infelizes com a palma branca dessa guerra 
a morrer, a chorar 
Eis, que todos ficaram 
com a planta dos pés descalços, 
em arames farpados, 
a correr, a gritar 
Eis, que todos, no pesar, se arrastaram 
de apesar dos pesares, 
em labirintos ensanguentados 
a prender, a trinchar 
Eis que todos somos 
frutos da manga 
desta terra encarecida 
sem mangas de camisa 
sem frutiferar os caminhos; 
Lança-se os corpos
(Estamos sobre a mata jogados) 
Expostos aos montes anavalhados 
silenciados nas exposições 
de quadros-negros escolares 
Eis, ás vezes, que todos ficaram infelizes 
com a palma branca dessa guerra, 
Crianças a moer, crianças a condenar 
Eis que cortados pela palma branca dessa arma, 
em igreja nos elevaram
a termos alma, 
E eis, que ás vezes, todos ficaram
felizes 
com a palma branca dessa guerra.